O inapto relatório para o Ensino da Educação Artística
Em Portugal o que é que o Curso de Psicologia e o Curso de Ciências da Educação existentes na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da UNIVERSIDADE DE LISBOA têm a ver com o Ensino Artístico ou com a Educação Artística ???
- Absolutamente NADA !!!
Acerca do relatório final do estudo de avaliação do Ensino Artístico que foi encomendado pelo Ministério da Educação à Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, apresento unicamente os links (sem currículo e sem publicações) do pouco que se sabe em seus autores na informação que está neste momento disponível no site da Faculdade:
Domingos Fernandes - link directo para a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação
Jorge Ramos do Ó - link directo para Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação
Mário Boto Ferreira - link directo para Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação
E quanto a estas Ciências da Educação em seu curso e, focalizando-nos no que se ensina e no que se aprende nele, poder-se-á atentar para as disciplinas que seguem:
1º ANO
1º Semestre
ESTATÍSTICA E INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO I / HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO I/ PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO I / SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO PROFISSIONAL I / SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO I /TEORIA E DESENVOLVIMENTO CURRICULAR I
2º Semestre
AVALIAÇÃO I / ESTATÍSTICA E INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO II / HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO II / PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO II / SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO II / TECNOLOGIAS EDUCATIVAS I
2º ANO
1º Semestre
AVALIAÇÃO II / OPÇÃO 1 / POLÍTICA DA EDUCAÇÃO / SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO PROFISSIONAL II / TECNOLOGIAS EDUCATIVAS II / TEORIA E DESENVOLVIMENTO CURRICULAR II
2º Semestre
ADMINISTRAÇÃO EDUCACIONAL / FORMAÇÃO DE ADULTOS / FORMAÇÃO DE PROFESSORES / METODOLOGIA DE PROJECTO / OPÇÃO 2 / SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO PROFISSIONAL III
3º ANO
1º Semestre
ECONOMIA DA EDUCAÇÃO / MODELOS DE FORMAÇÃO / OPÇÃO 3 / PSICOLOGIA SOCIAL APLICADA À EDUCAÇÃO / SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO PROFISSIONAL IV /TECNOLOGIAS EDUCATIVAS III
2º Semestre
EDUCAÇÃO COMPARADA / GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES EDUCATIVAS / OPÇÃO 4 / RELAÇÃO EDUCATIVA / SEMINÁRIO DE INTEGRAÇÃO PROFISSIONAL V / TEORIA DA EDUCAÇÃO
É neste somatório de matérias em disciplinas leccionadas que muito facilmente se poderá comprovar que afinal este curso nada tem a ver com o Ensino Artístico e muito menos com a Educação Artística.
Nem uma única disciplina que se debruce sobre temas da Filosofia, da Ética, da Estética, do Pensamento, das Artes, do Artístico, matérias tão cruciais quanto imprescindíveis para que a Educação se efective com o máximo de sucesso…
Portugal, com cursos como estes, constrói a antítese de toda e qualquer produção artístico-cultural, através destas manhosas formas de se arquitectar novos conceitos de inumeros parasitismos profissionais. E tudo se resume ao mero materialismo do ganho a ser possível destruir o que ainda existe em prol do negócio e do lucro insustentável nas tão recém-chegadas instituições em seus magnânimos doutos.
Criam-se assim profissões de inexperientes e desnecessárias aptidões a não saberem validar os verdadeiros conceitos do incentivo à dignidade e valorização do intelecto, num crescente automatismo de estares num atroz retrocesso ao decente, adequado e natural processo evolutivo do Ser.
E ainda sobre este Curso de Ciências da Educação em sua licenciatura, diz isto:
A educação e a formação são uma actividade crescente na vida social…
(…) A Licenciatura em Ciências da Educação não tem por finalidade habilitar para o exercício de funções docentes, mas sim, proporcionar uma formação de base para especialistas e técnicos superiores com capacidade para desenvolverem actividades de educação e formação.
(…) Esta formação teórica é articulada com uma progressiva integração dos estudantes em diferentes campos e experiências profissionais tendo em vista adquirir competências básicas para a sua inserção na vida activa
(…)… especialização, profissionalização e de investigação
(…)… coordenação, supervisão e chefia.
Nome de curso que se deveria de inscrever num português correcto em sua significância e não fugindo a essa mesma realidade, porque e afinal o Curso de Ciências de Educação nada mais é do que um Curso de Pedagogia da Educação!
E porque se usa este outro nome que lhe deram de Curso de Ciências da Educação? Afinal quais são as ciências da educação ???
E se de Ciências se trata, onde estão as de ditas principais Ciências que deveriam de estar associadas à EDUCAÇÃO que são elas a ÉTICA e a ESTÉTICA?
Desde quando a Educação se detém a qualquer antecipação de Ciência ou se auto intitula de Ciência em Ciências ?
É que através de um bom Ensino a ensinar-se bem em suas adequadas pedagogias poderá eventualmente surgir uma qualquer outra nova ciência, mas a situação inversa jamais se poderá verificar!
Falácias previamente institucionalizadas ou enganatórias conjecturas em estratégias comercializáveis do Ensino e da Escola?
O que dizer destas supostas modas em vaidades das tão desmesuradas e teorizáveis distracções ?
Afinal quais os objectivos ??? Ou simplesmente o quê… e para quê ???
E sobre o uso e no uso da nossa Língua Portuguesa pelo mundo fora, e comparativamente com o Ensino no Brasil que em vez de Curso de Ciências da Educação tem sim, vários cursos de pedagogia da educação existentes nas suas intituladas de “FACULDADE DE EDUCAÇÃO” e como exemplo, a FACULDADE DE EDUCAÇÃO da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas em São Paulo) para além do Curso de Pedagogia da Educação entre outros ainda oferece cursos de Licenciatura em Música, Dança, Educação Artística e Filosofia.
Será que teremos que aprender com o Brasil em seu Ensino e Educação ou simplesmente iremos piorar ???
A responsabilidade tem de ser assumida muito rapidamente antes que Portugal se veja prostrado numa estagnação deplorável e sem precedentes da História da sua CULTURA.
Links relacionados:
Vivaldi - Agitata da due venti
Ensino Artístico e Ciências da Educação
Novo ensino especializado da música (10)
O Ensino Artístico e o Eduquês
Cultura sem ARTES ?!
Para reflexão e análise deixo-vos com estes três links onde é notória a presença atrofiante de um total desconhecimento e numa qualquer já formatada ignorância e, até institucionalizada em certas aprendizagens postas tão alegremente em prática pelas tais recentes, arrogantes e instaladas categorias sociais da futilidade, impossibilitando assim, qualquer saudável comunicabilidade no ressurgimento de novos valores humanos numa sociedade que necessita de valorizar essas mesmas evolutivas, normais e inevitáveis transformações.
>>> Relatório final do estudo de avaliação do Ensino Artístico em Portugal - Fev.2007
>>> Democratizações da Arte
- Acredita que actualmente os pais ainda têm essa mentalidade?
Como historiador da educação posso dizer que acho que Portugal venceu com 150 anos de atraso educacional. (…) Nós vulgarizámos a aprendizagem. (…)
- Que opinião tem quanto ao ensino obrigatório da música no ensino regular não especializado?
(…) A chegada do ensino artístico como um conjunto de competências para o desenvolvimento da criança, designadamente do ensino pré-escolar, é protagonizada sobretudo pelas investigações dos psico-pedagogos. Temos aqui um paradoxo: Temos uma elite esclarecida que defende a cultura como um bem de distinção social.
>>> A Educação e a Música no divã
ler excerto no final do artigo…
(e porque foi assim que aprenderam, foge-lhes a boca para estas «verdadezinhas» psicanalíticas e numa tão descarada discriminação)
As Artes e a Música são um luxo e são supérfluas.
Pode-se sobreviver, rastejar sem elas.
Mas justamente, porque são um luxo, devem ser oferecidas aqueles a quem queremos oferecer «o melhor do Mundo»
Todos sabemos muito bem que as ARTES na sua concepção para com o desencadear da OBRA em seus Artistas, sempre foram secundarizadas, desprezadas e até condenadas e que posteriormente é a CULTURA, esse único campo proveitoso da genuína e verdadeira riqueza, que por sua vez em sua inerente espontaneidade se aproveita desse instituir de contrariedades da Força inegável da Criação Artística, numa natural e intuitiva constituição, não nos esquecendo ainda que sempre concebida à margem de qualquer Poder.
Actualmente com o aparecimento de novas mercantilistas ciências humanas, professores e profissionais-académicos das áreas da Psicologia (e afins tais como Psicologia da Educação e mais), num desconhecimento total e até numa atitude completamente absurda costumam rotular a associar às Artes, uma Cultura de elites!
Isto acontece ou porque desconhecem, esquecem ou não entendem que a CULTURA subsiste daquilo que é resultante a longo prazo de um POVO que em suas manifestações artísticas criaram e favoreceram o enaltecimento do SER como a primeira e vital necessidade comunicacional no vislumbre à viabilização natural de novos valores éticos e estéticos.
Links relacionados:
Ensino Artístico - reacções
Novo ensino especializado da música (8)
Boas referências
ANTI-ÉDIPO ... [02] - o desejo e a vontade
E nestes dois excertos do ANTI-ÉDIPO que se seguem (respectivamente da pg. 33 e da pag. 375) dá para exemplificar em como a psicanálise recorre ao Desejo tentando confundi-lo, a torná-lo exteriorizante e até a promiscuí-lo. É que o DESEJO (no singular) nunca é desejo de algo que falta, somente se lhe alterarmos o significado e o associarmos à Vontade (no colectivo) exteriorizante e objectiva, por poder em obstinada posse de objectos e coisas, tão usado no consumismo esquizofrénico e deprimente das actuais sociedades:
E exactamente porque o DESEJO nem sempre necessita da Vontade, mas a Vontade essa sim, é que necessita de Desejo, para que exista a Vontade (em Boa-Vontade) para um Bem-Comum a todos.
A Escola, o Ensino e a Educação terão de se reger de outros moldes e é por isso que eu sou uma grande crítica da Psicologia e da forma como ela segue o seu caminho, e sobretudo critico a psicanálise, apoiando-me assim naqueles que a reprovam e que têm obra nesse sentido. Porque quando leio Melanie Klein, Lacan ou Freud são leituras pouco edificantes do ser. É como que tenhamos de ser obrigados a ter de nos sentirmos a mais à face da Terra. E se eu não penso o Desejo maquinal pelo papá-mamã dessa forma tão escabrosamente esquizofrénica de todos nos estarmos para aí sempre a olharmo-nos uns aos outros como deficientes e a ver onde estão os tais defeitozinhos a nos superiorizarmos uns aos outros pela falta, ou as insuficiências e carências lamechas, para ora virem dar pancadinhas nas costas ora virarem costas e entrar-se numa outra retórica, então quererá dizer que nada tenho a ver com as teorias de Freud e sinto-as absurdas e perigosas por tão indesejáveis. O que a Psicanálise faz é a desqualificação das potenciais capacidades de se pensar livremente. É uma dependência ou submissão a ideias ou conceitos opressivos de se SER.
E ainda sobre o DESEJO deixo-vos com a Proposição LX, de BENTO ESPINOSA do seu Livro ÉTICA : O DESEJO que nasce da alegria ou da tristeza que se refere a uma só ou algumas partes do Corpo e não a todas, não tem em conta a utilidade do Homem Todo.
Muito há para fazer nestas áreas das Humanidades e que considero essenciais para que não acertem passo com o que com elas próprias já não se acertam e com o que até sabem que está comprovadamente errado!
É uma questão de tempo! E aqui estamos todos nós para que essa comunicação exista, e quem sabe, até possa surgir uma outra palavra em antónimo à psicanálise e que possa dignificar o Ser, sem as tão habituais e assomadas fabricações de se pensar a não-Ser.
ANTI-ÉDIPO ... [01] - o desejo doente
Freud fez a descoberta mais profunda: a da essência subjectiva do desejo, a Líbido. (…) – só podia pensar que a essência da vida era uma forma voltada contra si própria, que a essência da vida tinha a forma da própria morte. (…) É o Édipo, terra pantanosa que exala um profundo cheiro a podridão e morte, e é a castração a piedosa ferida ascética, o significante, que faz desta morte um conservatório da vida edipiana. O desejo em si mesmo é, não desejo de amar, mas força de amar, virtude que dá e que produz, que maquina (como é que aquele que vive podia ainda desejar a vida? como é que se pode chamar DESEJO a isso?). (…) A espera de melhores dias? É preciso – mas quem é que fala assim? que abjecção? – que se torne desejo de ser amado e, pior ainda, desejo choramingas de ser amado, desejo que renasce da sua própria frustração: não, o papá-mamã não me amou que chegasse… O desejo doente deita-se em cima do divã, pântano artificial, terrazinha, mãezinha. «Repare: você não pode andar, vacila, já não se sabe servir das pernas… e a única causa disso é o desejo de ser amado, um desejo sentimental e choramingas que tira toda a firmeza aos seus joelhos»(48). (…)
«Estenda-se no divã, em cima do confortável sofá que o analista lhe oferece, e tente mas é pensar noutra coisa… Se perceber que o analista é um ser humano como você, com as mesmas chatices, os mesmos defeitos, as mesmas ambições, os mesmos fracos e tudo, que não é depositário de uma sabedoria universal (=código) mas um vagabundo como você (desterritorializado), talvez deixe de vomitar essa água de esgoto, por muito bem que lhe soe aos ouvidos: talvez então você se consiga endireitar nas duas patas e se ponha a cantar com a voz de Deus (numen) lhe deu. Sai-lhe sempre caro confessar-se, esconder-se, lamuriar-se, lamentar-se. Cantar é grátis. E não apenas grátis – enriquecem-se os outros (em vez de os infectar). O mundo dos fantasmas é aquele que nunca acabamos de conquistar. É um mundo do passado, não do futuro. Caminhar agarrado ao passado é arrastar as grilhetas de forçado… Não há ninguém entre nós que não seja culpado pelo menos de um crime: o crime enorme de não viver plenamente a vida» (49).
Você não nasceu Édipo, fez mas foi crescer o Édipo em si; e pensa que se há-de livrar dele com o fantasma, com a castração, que também são coisas que você fez crescer no Édipo, ou seja em si – horrível círculo. Merda para todo esse teatro mortífero, no imaginário ou simbólico. (…) E exigimos o direito de uma ligeireza e de uma incompetência radicais, o direito de entrar no consultório do analista e dizer que lá cheira mal. Cheira a morte e a euzinho.
(…)
(48) D.H.Lawrence, La Verge D’Aaron, p.99
(49) Henry Miller, Sexus (o que está entre parêntesis é dos autores). Remetemos para os exercícios de psicanálise cómica no Sexus
ANTI-ÉDIPO – CAPITALISMO E ESQUIZOFRENIA
Assírio & Alvim, 2004
pgs. 348, 349 e 350