Sobre_ ALI_SE
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a árvore ao jardim

JEAN-PIERRE DUPUY e a conformativa ECONOMIA

(…)
Não é de moralização que o mundo dos negócios mais precisa; é da clara compreensão de que ao «pagar», o político assina a prazo, a sentença de morte. 
(…) Se, ao menos se pudesse manter a economia no devido lugar! Porém tem uma tendência irresistível para tudo invadir. Para fazerem compreender bem a lei da oferta e da procura, dois professores da Universidade da Virgínia, Gordon Tullock e Richard McKenzie, incitaram nos anos setenta, os alunos a praticar a prostituição. 

(…) … Que ninguém se apresse a gritar que isto é um escândalo. Em matéria de ética, a moral é má conselheira… Se uma troca recíproca satisfizer ambas as partes e se, por outro lado, ninguém sofrer com ela, quem pode criticá-la? A lei? Sabe-se que a lei pode ser injusta e que não é imutável. Engraxo-te as botas, prestas-me um serviço ao fazer com que obtenha um contrato. A justiça conformada aqui com a justiça das trocas, é automaticamente assegurada pelo consentimento das partes. 

(…) … O mercado cria laços em que a afectividade não tem lugar…

(…) … Para qualquer pensamento crítico. O mercado é a antitradição por excelência (…)


(…) Mais ainda do que nas obras precedentes, O Hayek de “The Fatal Conceit” está consciente da relação de ódio e de amor misturados que os homens têm pela ordem extensa do mercado – a que chama a maioria das vezes, a «civilização». O que pôs o homem na via da civilização, escreve, «não foi nem a sua razão nem uma “bondade natural” inata […], foi apenas a amarga necessidade de se submeter a regras de que não gosta, a fim de resistir a grupos rivais que já tinham começado a expandir-se por terem encontrado antes essas regras». Pela sua própria abstracção, o mercado quer uma disciplina exigente, uma moral compulsiva. A civilização é um «fardo» e os homens não vêem facilmente, os benefícios que ela dá. 

(…) … O indivíduo auto-suficiente e independente que a teoria económica postula não se pode sujeitar à influência dos semelhantes. E, contudo Hayek atribui à imitação um papel central. Não é o único evidentemente: Smith, tal como vimos, e Keynes, tal como iremos ver, fazem a mesma coisa. A companhia não é de desprezar: são os melhores economistas de todos os tempos que se encontram juntos neste ponto.

(…) … O problema, evidentemente, é que Hayek dificilmente pode afirmar que o mercado passou no teste com êxito, visto que toda a sua obra se apresenta como uma crítica radical, e temos a vontade de escrever, «racional» da civilização moderna, culpada de se ter deixado seduzir pelas sereias do construtivismo.


(…) … No estudo da especulação financeira, Keynes vê bem, tal como Hayek, o papel fundamental da imitação. Numa situação de incerteza radical, tal como a que prevalece num mercado financeiro em crise, a única conduta racional é imitar os outros.

(…) O erro «fatal» do racionalismo construtivista é pensar que a razão, consciente e voluntária, pode governar a vida mental e psíquica. Verdadeiro é o contrário: tal como tudo o que faz a vida do espírito, a razão é ela mesma governada pelos esquemas abstractos que a compõem. A razão, o mundo das nossas ideias em geral, apenas «se verifica» no mundo do espírito, para recordar a uma noção chave da filosofia do espírito (“supervenience”). Que presunção imaginar que poderia “reconstruí-lo” à vontade ou mesmo substituir-se-lhe! O espírito é irremediavelmente opaco a si mesmo, não pode pôr-se no exterior de si mesmo para se contemplar no seu todo e fazer a teoria do seu próprio funcionamento.
(…)

JEAN-PIERRE DUPUY, «Ética e Filosofia da Acção», Pensamento e Filosofia, 2001

ar da cidade

Estarei eu subindo a montanha declinável Estarei eu concordando que as ruas só descem Que os barcos à beira rio não se movem Que nesse teu espanto se assenta a única alegria Na nuvem que impermeabiliza Acima de todo o ar

Ouvem-se as gaivotas Muitas gaivotas por aí Muitas Vêm até à cidade E os pombos afastam-se delas As pombas põem ovos por todo o lado Já não fazem ninhos E as gaivotas comem-nos E porque não se comem pombos

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ÁGUA em que Futuro


Excertos retirados de artigo do site da AMI com o título «A Água e o Futuro da Humanidade»:

ACÇÃO DA AMI
Para a intervenção humanitária em 59 países dos 5 continentes onde as equipas da AMI desenvolveram mais de 500 Missões Humanitárias a escassez e qualidade da água é de uma importância fundamental, em particular na ajuda de emergência.
(…)
Objectivos da AMI
Acesso de toda a população da área aos cuidados de saúde - acesso da população a medicamentos necessários ao seu tratamento - reabilitação de instalações hospitalares - acesso a infra-estruturas básicas, como a água e electricidade - melhoria dos conhecimentos técnicos e dos conhecimentos relacionados com uma vida saudável - esclarecimentos e educação da população.
(…)

Onde está a água...

... 97,4% está nos oceanos e mares, e é salgada ... 1,98% está armazenada nos glaciares e em lugares quase inacessíveis ... 0,59% são águas subterrâneas ... 0,03% está nos rios e lagos ... 0,001% na atmosfera ... Apenas 1% de toda a água do planeta está disponível para uso.
e mais... 90% do corpo de um recém-nascido é formado por água ... em média uma pessoa bebe cerca de 60 mil litros de água durante toda a vida ... o ciclo da água já não é suficiente para purificar naturalmente a água que o homem polui ... para fazer 1 quilo de pão, gastam-se, da plantação de trigo à padaria 1000 litros de água ...
(…)
... Uma descarga de um autoclismo num país ocidental utiliza o mesmo volume de água que um habitante do mundo em desenvolvimento consome, em média, num dia inteiro para a sua higiene, para beber, para limpeza e para cozinhar.
... 87% do consumo mundial é feito por apenas 10% da população.
Em África há pessoas que têm de caminhar 8 quilómetros por dia para obter os cerca de 10 litros de água que irão servir uma família inteira.
No nosso mundo privilegiado 10 litros de água são consumidos em escassos segundos com o abrir de uma torneira. Será isto justo?

Se o consumo de água fosse equitativo em todo o mundo, cada pessoa poderia viver com apenas 50 litros de água por dia, sendo: 1 a 2 litros para beber, e 25 a 50 litros para preparar os alimentos e para a higiene.
No entanto, estes são os números do mundo em que vivemos:
• Estados Unidos da América ... cada Americano tem uma média de consumo pessoal de 400 litros de água por dia.
• Europa... o consumo varia entre 150 a 300 litros de água por dia, por pessoa. Ainda assim 120 milhões de europeus (um em cada sete) não têm acesso a água potável e a tratamento de esgotos.
• Portugal ... cada português gasta em média 100 litros de água por dia.
• Ásia... um em cada três asiáticos não tem acesso a água potável; os rios da Ásia têm três vezes mais bactérias provenientes dos resíduos humanos do que a média mundial.
• África... 14% dos países da África enfrentam "stress" hídrico. Até 2025, mais onze países deverão enfrentar as mesmas condições. A procura de água no norte de África deverá aumentar 3%, por ano, até 2020, paralelamente ao crescimento da população e ao desenvolvimento económico.

Ler o texto na íntegra >>> «A Água e o Futuro da Humanidade» <<<


Links sobre a ÁGUA – Portugal:

Museu da Água
Instituto da Água

Água & Ambiente

Associação Água Pública

Como reduzir a água que consumo?
Portal da Água


Links sobre a ÁGUA – Brasil:

Água e Cultura
Amigo da Água

Água Virtual

Universidade da Água


*

Desejo em MOVIMENTO TOTAL de José Gil

(…) O bailarino contempla as imagens virtuais do seu corpo a partir dos múltiplos pontos de vista do espaço do corpo. Paradoxalmente, a posição narcísica do bailarino não exige um «eu», mas um outro corpo (pelo menos) que se desprenda do corpo visível e dança com ele. Graças ao espaço do corpo, o bailarino, enquanto dança cria duplos ou múltiplos virtuais do seu corpo que garantem um ponto de vista estável sobre o movimento (para Mary Wigman, dançar é produzir um duplo com o qual o bailarino dialoga).
Conivência e distância do corpo actual em relação aos corpos virtuais são assim acompanhados por uma contemplação do movimento que ao mesmo tempo o desposa e se afasta dele para adquirir uma perspectiva consistente no interior do próprio movimento. (…)
É falso dizer que «transportamos o nosso corpo» como um peso que arrastamos sempre connosco. O peso do corpo constitui um outro paradoxo: se exige um esforço para o fazermos mexer-se, é também ele que transporta sem esforço através do espaço.
Como no-lo mostram essas Mulheres de Picasso correndo pela praia, com pernas e braços que se alongam como o próprio espaço que a corrida, o horizonte, o mar e o vento induzem, a textura do corpo é espacial; e reciprocamente, a textura do espaço é corporal. (…) 
A «abertura» do corpo não é nem uma metonímia nem uma metáfora. Trata-se realmente do espaço interior que se revela ao reverter-se para o exterior, transformando este último em espaço do corpo.
Mas porque se quer abrir o corpo e projectá-lo para fora?
Sabemo-lo: para construir o espaço do corpo e, no limite, para formar o plano de imanência da dança, enquanto última transformação desse espaço. Porquê querer a imanência? Para alcançar as intensidades mais altas, essas a que Cuningham chama de «fusão». Mas enfim porquê querer dançar?
Assim que tentamos responder, somos imediatamente remetidos para o desejo, para a própria natureza do desejo.
O que se prende com uma só palavra: agenciar.
Palavra de Deleuze e Guattari que nos parece ser a mais apta para exprimir o que do desejo se implica no desejo de dançar.
O desejo cria agenciamentos; mas o movimento de 
agenciar abre-se sempre em direcção de novos agenciamentos. Porque o desejo não se esgota no prazer mas aumenta agenciando-se.
(…) O desejo é portanto infinito, e nunca pararia de produzir novos agenciamentos se forças exteriores não viessem romper, quebrar, cortar o seu fluxo.
O desejo quer acima de tudo desejar, ou agenciar, o que é a mesma coisa. O agenciamento do desejo abre o desejo e prolonga-o.
Se o agenciamento abre o desejo e o aumenta, é porque se tornou 
matéria do desejo, não seu objecto, mas sua textura própria, participando da sua força, da sua intensidade, do seu «impulso vital» para falarmos como Bergson. Por outras palavras o desejo não é só desejo de agenciamento, é agenciamento, transforma aquilo que «produz» ou «constrói» em si próprio. Se o desejo de um pintor consiste em agenciar certas cores de certa maneira, a força do quadro que daí resulta é o desejo. As cores e os espaços agenciados desejam.
Seja qual for o tipo de agenciamento, o desejo procura fluir através dele. Nos movimentos do pensamento como no fazer do artista ou na elaboração da fala, desejar é agenciar para fluir, agenciar para que a potência de desejo aumente. Por isso o desejo reconduz a si próprio, transforma, metaboliza todos os elementos que toca, atravessa ou devora. Para o desejo tudo deve devir desejo.
(…) Digamos, simplesmente, que o corpo habitual, o corpo-organismo é formado de órgãos que impedem a livre circulação de energia. A energia é investida e fixada nos sistemas de órgãos do organismo (assim se constroem esses «modelos sensorio-motores interiorizados» de que Cuningham fala, que representam sempre um obstáculo à inovação). Desembaraçar-se deles, constituir um outro corpo onde as intensidades possam ser levadas ao seu mais alto grau, tal é a tarefa do artista e, em particular, do bailarino.
(…)
JOSÉ GIL , MOVIMENTO TOTAL. O corpo e a dança - Relógio D’Água Editores, 2001
BALLET GULBENKIAN - Fotografia/Arquivo de ALICE VALENTE ALVES

UM TANTO FAZ DO OUTRORA AGORA

Telemovem-se inscritos na mente de capturas datáveis
Companheiros em companhias mal paradas

Estacionados em bolsos, carteiras e afins espaços, todos eles lado a lado
Tocam e retocam-se em mensageiras ideias sem mais
Reconfortáveis ausências das chegadas que não se virão
Substitutos de um não expresso
Súplicas presenças gastronomicamente consumidas
Uso sem fruto ou fruto sem usos de um tanto faz
Basta não fazer por já feito ao que dita
Inúmeros são os repetitivos répteis gestos
E aceitam-se as de agora corruptíveis malfeitorias
Aprendizes das regaladas e numéricas vias
Ainda assim sugam as peles das acastanhadas rubricas
Tragam-se suspiros e venham eles doravante por experimentar
Ditos e proveitosos sussurros de participáveis e pré-combináveis apertos
E só assim se vêem por aí encostados ou semi-encostados por tantos costados
Membros de esotéricas distracções assumidas à proa destapada
E o vento cabe-lhes na procura de taças simuladas de um outrora escondido
Rédeas soltas aprisionam as ideias nas tomadas de fins à vista
Vidrados telhados de graníticas chuvas por cair
Dias e dias a mais sem achados de tronos comprimidos

Por quantos dias que não se acham

2 0 0 6 _ 0 1 J U L H O : WORK IN...

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