Sobre_ ALI_SE
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a árvore ao jardim

ANTI-ÉDIPO ... [04] - a abjecta relação


(...) Deve-se falar de castração no mesmo sentido em que se fala de «edipianização», e de que ela é a conclusão: a castração designa a operação por meio da qual a PSICANÁLISE castra o inconsciente, injecta a castração no inconsciente.


(...) Desde o princípio que a relação psicanalítica segue o modelo da relação contratual da medicina burguesa tradicional: a falsa exclusão de terceiros, o papel hipócrita do dinheiro – a que a psicanálise trouxe novas e burlescas justificações -, a pretensa limitação no tempo que se contradiz a si mesma reproduzindo uma dívida sem fim, alimentando um inesgotável transfert, suscitando sempre novos «conflitos». Causa-nos uma certa admiração dizer-se que uma análise terminada é, por isso mesmo, uma análise falhada, mesmo que essa afirmação seja acompanhada por um fino sorriso de analista. Espantamo-nos ao ouvir um experimentado analista dizer com toda a leviandade que um dos seus «doentes» ainda sonha ser convidado para lanchar ou tomar um aperitivo em sua casa, após vários anos de análise, como se isso não fosse um sinal de dependência abjecta a que o analista reduz os seus pacientes. Como é que a cura consegue provocar esse abjecto desejo de ser amado…?

(...)

GILLES DELEUZE e FÉLIX GUATTARI
ANTI-ÉDIPO – CAPITALISMO E ESQUIZOFRENIA
Assírio & Alvim, 2004

pgs. 63 e 67


ANTI-ÉDIPO ... [03] - o homicídio cultural

(…)… se é verdade que a análise nem sempre começa por ser edipiana, excepto para nós, não virá no entanto, a sê-lo numa certa medida? E em que medida? È verdade que ela se torna, em parte, edipiana, sob o efeito de colonização. O colonizador, por exemplo, abole a chefatura (assim como muitas outras coisas, a chefatura é apenas o começo…) ou utiliza-a para os seus próprios fins. O colonizador diz: o teu pai é apenas teu pai, nada mais, assim como o teu avô materno não tens nada que os tomar por chefes… faz as tuas triangulações no teu canto, mete a tua casa entre as da linha paterna e as da linha materna… a tua família é apenas a tua família e nada mais, a reprodução social não passa por lá embora seja precisa para fornecer um material que será submetido ao novo regime de reprodução… Então sim, esboça-se um quadro edipiano para os selvagens espoliados: Édipo de bairro de lata. Vimos, pois, que os colonizados são um exemplo típico de resistência ao Édipo: aqui com efeito, a estrutura edipiana não chega a fechar-se, e os seus termos continuam colados, em luta ou em cumplicidade, aos agentes da reprodução social opressiva (o Branco, o missionário, o cobrador de impostos, o exportador de bens, o homem notável da aldeia que se tornou agente da administração, os velhos que maldizem o Branco, os jovens em luta política, etc.). É tão verdade dizer que o colonizado resiste à edipianização como dizer que a edipianização procura fechar-se sobre ele. A edipianização é sempre um resultado da colonização, é preciso acrescentá-la a todos os processos referidos por JAULIN na Paix blanche. «O estado de colonizado pode conduzir a uma redução da humanização do universo, de tal modo que todas as soluções procuradas o sejam à medida do indivíduo ou da família restrita, o que tem por consequência uma anarquia ou desordem extremas ao nível do colectivo: anarquia de que os indivíduos serão sempre as vítimas, excepto aqueles que são beneficiados por um tal sistema, neste caso os colonizadores, que nesse mesmo tempo em que o colonizado reduzirá o universo, procurarão estendê-lo» (25). O Édipo é uma espécie de eutanásia do ETNOCÍDIO. Quanto mais a reprodução social escapa em natureza e extensão aos membros do grupo, mais se rebate sobre eles ou os rebate sobre uma reprodução familiar restrita e neurotizada cujo agente é o Édipo.

(…) Porque é preciso que a família apareça sob duas formas: uma, em que ela é evidentemente culpada, mas apenas no modo como a criança a vive, intensa e interiormente, e que se confunde com a sua própria culpabilidade; a outra, em que ela continua a ser uma instância de responsabilidade, face à qual se é – enquanto criança – culpado, e em relação ao qual nos tornamos – já adultos – responsáveis (o Édipo como doença e como saúde, a família como factor de alienação e como agente de desalienação – ainda que o seja apenas pelo modo como é constituído no transfert). Foi o que Foucault mostrou em páginas tão belas: o familiarismo inerente à psicanálise não destruiu a psiquiatria clássica – antes a consagra, a conclui. Depois do louco da terra e do louco do déspota, o louco da família; o que a psiquiatria do séc. XIX pretende organizar no asilo - «a imperativa ficção da família», a razão-pai e o louco-menor, os pais cuja única doença é a sua própria infância – tudo isto acaba fora do asilo, na psicanálise e no gabinete do analista.

(…)

(25) - Robert Jaulin, La paix blanche, introduction a l’etnocide, Ed. Du Seuil, 1970, p.309. Jaulin analisa a situação dos índios que os capuchinhos «convencem» a trocar a sua casa colectiva por casas «pessoais» (pp.391-400). Na casa colectiva o apartamento familiar e a intimidade pessoal baseiam-se numa relação com o vizinho definido como aliado, de modo que as relações interfamiliares eram coextensivas ao campo social. Mas, pelo contrário, na nova situação, produz-se «uma fermentação abusiva dos elementos do casal sobre si próprios» e sobre os filhos, de modo que a família restrita fecha-se num microcosmos expressivo em que cada um dos membros reflecte a sua própria linhagem enquanto se torna cada vez mais estranho às transformações sociais e produtivas. Porque o Édipo não é só um processo ideológico, mas é também o resultado da destruição do meio-ambiente, do habitat, etc.


GILLES DELEUZE e FÉLIX GUATTARI
ANTI-ÉDIPO – CAPITALISMO E ESQUIZOFRENIA
Assírio & Alvim, 2004

pgs. 174, 175, 282 e 283


ANTI-ÉDIPO … [01] - o desejo doente

ANTI-ÉDIPO … [02] - o desejo e a vontade

Dito na Conferência Nacional de Educação Artística


Tanto que foi dito naquela Conferência Nacional de Educação Artística, tanto, tanto, mas tanto, e por tantos doutos que dizem que sabem, que dizem que irão fazer, que ficámos todos muito bem inteirados, o quanto são insensíveis, incapazes e pobrezinhos de espírito, e ficámos a saber também na mesma e habitual novidade de seus comerciais e prosaicos blá-blás-blás de quem sabe muito bem enganar, dos grandes formadores, dos grandes especialistas, dos grandes senhores, dos grandes isto e dos grandes aquilo das ciências da educação, que dizem saber que sabem tudo, e nós a assistirmos e a vermos que embora de tão mentirosos, insistem que os teremos de aceitar e aturar assim como tão doutos sabichões que nada entendem do que é artístico e em sua educação. Mas são uns desenvergonhados que sentam-se todos lado a lado, assim muito bem protegidos com quantas preparatórias e estrategas ideias e em que considerações muito bem ditadas. 

E eram muitos os que por ali pairavam e que nada abonam às Artes e ao que é Artístico. Basta saber quem é quem no link do programa, ou quem é mais importante em suas abundantes sapiências que depressa se apercebemos que nada têm a ver com as artes e com artistas.
Mas aos raros que lhes foi possibilitado estarem presentes e falarem e que não estão para aturar aquelas malandrices dos que querem fazer da Educação Artística uma coisa qualquer sem sentido, deram bem conta do recado em suas apresentações. 

E assim, no dia 29 de Outubro na sala Suggia da Casa da Música na 2ª Sessão, assisti ao ser desmascarado mais depressa do que eu estava à espera, o tal presidente e responsável do Relatório do Ensino para a Educação Artística em Portugal, Dr. Domingos Fernandes. E que envergonhado perante toda a plateia, assumiu peremptoriamente a sua total incapacidade e incompetência, após as violentas palavras de indignação de Rui Vieira Néry dirigidas ao responsável desse mesmo relatório e que por sinal se encontrava no lado oposto  da mesma mesa.

Espero que todos estes discursos em seus textos e comunicações estejam em breve on-line para consulta de todos e para que saibamos quem é quem, a acarretar com as responsabilidades para além do que tenha de ser anulado imediatamente a não ser posto em prática e para que estas práticas não se voltem a repetir.
Sinto que de alguma forma também contribui para ver esclarecida esta situação do inapto Relatório em textos que fui desenvolvendo e após esta conferência pergunto: porque é que um senhor como o Dr. Domingos Fernandes lá porque gosta muito de Educação como o disse na conferência, em tom de quem se quer desculpar sem mais nem menos, aceita levianamente fazer um trabalho daquela responsabilidade e para a qual não tem competência? É porque agora a autoridade máxima da Educação e até do Artístico em que o Ministério da Educação entregou unicamente nas mãos dos doutos da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação, e pensam que podem passar por cima de tudo e de todos? Quem os arroga a tanto? Toda esta situação até pode ser considerado de grande assalto e gatunagem a toda uma cidadania que é, como que obrigada a aceitar este tipo de gente incapaz, mentirosa e «mal intencionada»!
Pois, meditam, meditam e preparados estão e porque até ficou bem patente nesta conferência, que o que pretendem é fazer da Educação Artística uma nova e dúbia disciplina a ser dada por estes tais de enganadores especialistas-estrategas das ciências teórico-educacionais ou então num qualquer curso especulativo a ser tornado em engodo de uma nova agência de emprego para professores, e em que cursinhos dos que irão ensinar o quê, as artes infantilizadas claro está! Sim é porque é isso, agora que está na «berra» é, trata-se da Educação Artística, sim aquela que irá salvar o mundo, com aqueles palavrinhas tão corriqueiras e lamechas dos político-psicanalistas. Ah mas não esqueçamos que muitos artistas também se vendem, são os artistas da «indústria cultural» e os das «artes industriais» e os que as galerias promovem ao seu belo-prazer, não confundamos, não são esses que irão ser venerados e que têm feito algo em prol da Humanidade e da verdadeira Cultura, porque esses, muitos deles até já entraram na moda, deram o salto e zás, lá estão eles, na linha da frente, todos contentes a sentirem-se «gente» importante porque tratados de «senhor doutor» ou de «senhor professor», sim querem aquela tal riqueza que em nada nos enriquece, sim renegaram àquilo que era difícil para se arrogarem no que é bem sucedido. Ser artista não é para todos, e formados e formatados nas ciências da educação é bem melhor, pois é mais fácil, é a casa dos talentos feitos à pressão de toda a maneira e feitio, são os aceites, os bem sucedidos, que assim, poderão continuar a serem formadores e até têm possibilidade de como se irão dar as artes nas escolas, multiplicam-se em saberes que não praticam, é tudo uma questão de teoria, está nos livros tudinho e nas inventivas bibliografias das novas e educacionais e engenhocas cientificidades, como se de um invólucro num qualquer bom aspecto se tratasse e já está! Fala-se, diz-se bem, copia-se e está-se bem. Ou seja agora e relativamente às Artes, aos Artistas e o que é Artístico, querem usá-los e pô-los numa qualquer margem, atirando-os da borda-fora, é isso? Ou então querem vir roubar conceitos e estares a obrigarem que sejamos «coisas» ou objectos vendáveis e compráveis como se estas áreas, alguma vez se poderiam tornar mercantilizáveis ou convertidas em meras indústrias culturais, é isso? Talvez estejam enganados, é que este é um mar imenso e pode ficar bravo, assim como o mar verdadeiro que se agita em maré-alta, é imprevísivel e pode ser muito perigoso, para os que pensam que tudo dominam sem respeito para com a Vida no Ser da Criação em sua Natureza..

Não esqueçamos que a verdadeira Cultura e a verdadeira Educação são pois do domínio público… 


E não esqueçamos também que para formar e desenvolver capacidades e talentos é preciso que os professores sejam talentosos!


E no dia do encerramento felizmente que foi convidado alguém ligado às Artes, o maestro José Luís Borges Coelho e que eloquentemente nas suas sublimes e sentidas palavras, fez questão de revelar relativamente à Conferência e de como tem sido tratada a Educação Artística, que o «rei vai nú», desmascarando toda aquela palhaçada, fazendo que toda a plateia se levantasse mais do que uma vez a aplaudi-o e a mostrar que ainda é possível acreditar nas Artes e no que é Artístico, mas pelos que fazem Obra, no Saber-Fazer e não por todos aqueles que pensam que os talentos se fazem de invencionices, a dizer que basta de conversa, basta de teorizações de altíssimo gabarito, basta de declarações eloquentes destinadas a recomendar o que foi recomendado e de quererem mostrar que agora descobriram o tesouro ou a pólvora da Educação Artística, mas o Ensino do Artístico já existe e é ensinado nas Escolas de Música e não só, tem sido é muito negligenciado pelos ministérios e pelos governos. Agora temos que nos comprometer é com a erradicação da pobreza e é com essa realidade que a Educação se terá de confrontar e que ninguém deliberadamente seja posto de fora…



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