Sobre_ ALI_SE
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a árvore ao jardim

Vivam-se


Vivam-se + Bem vivos + Bem vivos por quase mortos 
Vivam-se de palmas batidas + Vivam-se por quase mortos 
E usem o que têm + E o que quererão muito ter
+ Para se apregoarem na cruz bendita +

Haja paciência + E aos pacientes é-lhes roubado + Tudo 
 Tudo tudo + Muito antes de tudo o mais

As ironias maltrapilham-se 
Ao gravatear que os apertará para sempre

Não se alegrem por tão tristes 
Às altas janelas de vestes sem postura

Desviados ou enviesados é tudo isso + Enviesados por desvio 
 Ou enviesados ao invés + Não se surpreendam muito ao demais 
 Esses surpreendidos usam-se para a fornalha 
Por pós ao livre desencantar



Os Poetas e a interrogação do Ser, em ECO

«... se o Ser (com maiúscula) é tudo aquilo de que se puder dizer alguma coisa, porque é que também não deverá fazer parte dele o devir? O devir surge como um defeito numa visão do ser como Esfero compacto e imutável: mas agora ainda não sabemos se o ser não será, não diremos volúvel, mas móvel. metamórfico, metempsicótico, compulsivamente reciclante, inveterado bricoleur...
De qualquer modo as línguas que falamos são como são, e se apresentam ambiguidades, ou inclusivamente confusões no uso deste primitivo (ambiguidades que a reflexão filosófica não resolve), não será que este embaraço exprime uma condição fundamental?
Para respeitar este embaraço, vamos usar nas páginas seguintes ser no seu sentido mais vasto e despreconceituado. Mas que sentido pode ter este termo que Pierce declarou de intensão não nula? Terá o sentido que sugere a dramática pergunta de Leibniz: «Porque é que há algo em vez de nada?».
É isto que entendemos pela palavra ser: Algo.
Porque é que a semiótica deverá ocupar-se deste algo? Porque um dos seus problemas é (também, e certamente) dizer se e como usamos signos para nos referirmos a algo, e sobre isto muito se tem escrito. Mas não creio que a semiótica possa evitar outro problema: o que é esse algo que nos induz a produzir signos?
Toda a filosofia da linguagem vem defrontar-se não só com um minus ad quem mas também com um terminus a quo. Tem de se perguntar não só: «a que nos referimos quando falamos, e com que credibilidade?» (problema certamente digno de nota); mas também: «O que nos faz falar?».
Isto, posto filogeneticamente, era no fundo o problema - que a modernidade interditou - das origens da linguagem, pelo menos de Epicuro em diante. Mas se se pode evitá-lo filogeneticamente (aduzindo a falta de achados arqueológicos) não se pode ignorá-lo ontogeneticamente. A nossa própria experiência quotidiana pode fornecer-nos elementos, se calhar imprecisos mas de qualquer modo tangíveis, para respondermos à pergunta: «porque é que fui induzido a dizer algo?».

(...) ... Um Objecto Dinâmico leva-nos a produzir um representamen,  este produz numa quase-mente um Objecto Imediato, por sua vez traduzível numa série potencialmente infinita de interpretantes e por vezes, através, através do hábito elaborado no decorrer do processo de interpretação, voltamos ao Objecto Dinâmico, e sempre fazemos qualquer coisa. Sem dúvida, a partir do momento, a partir do momento em que temos de tornar a falar do Objecto Dinâmico a que voltámos, estamos de novo na situação de partida, temos de tornar a denominá-lo através de outro representamen e num certo sentido o Objecto Dinâmico permanece sempre como uma Coisa em Si, sempre presente e jamais captável, senão precisamente por meio de semiose.
No entanto, é o Objecto Dinâmico o que nos leva a produzir semiose. Produzimos signos porque há algo que exige ser dito. Com expressão pouco filosófica mas eficaz, o Objecto Dinâmico é Algo-que-nos-dá-um-pontapé e nos diz «fala!» - ou «fala de mim!», ou ainda, «entra em consideração comigo!».

(...)... o poder revelador reconhecido aos Poetas não é tanto o efeito de uma revalorização da Poesia como de uma depressão da Filosofia. Não são os Poetas a vencer, são os filósofos a render-se.
Ora, mesmo admitindo que os poetas nos falem do que de outro modo é incognoscível, para lhes confiar a tarefa exclusiva de falar do ser, tem de se admitir por postulado que haja incognoscível.

(...) O que nos revelam os Poetas? Não é que eles digam o ser, eles muito simplesmente tentam emulá-lo: ars imitatur naturam in sua operatione. Os Poetas assumem como sua tarefa a substancial ambiguidade da linguagem e tentam explorá-la para dela fazerem sair, mais que um excedente de ser, um excedente de interpretação. A substancial polivocidade do ser costuma impor-nos um esforço  para dar forma ao informe. O poeta emula o ser repropondo a sua viscosidade, tenta reconstruir o informe original, para nos induzir a ajustar contas com o ser...»

UMBERTO ECO - Kant e o Ornitorrinco Edições DIFEL 1999

Criação Artística e os conceitos usurpados à Arte na Criação

O roubo e a falsificação de vários conceitos das áreas do artístico, tais como «criatividade», «criação» ou «criação artística» e até «estética» tem sido feita ao mais alto nível da manipulação psicológica, tanto pelas economias e em suas empresas, como pelas políticas e em seus governos, e ainda pelos produtores de uma nova indústria de cara lavada ao que é cultural. Será então que teremos de dividir a criatividade em duas partes? Talvez, em criatividade artística por um lado e em criatividade inventiva por outro, para assim nos entendermos melhor?

E até já se fala, muito normalmente de criatividade, como de competitividade se se tratasse. É possível, desde quando? É que os produtores das proveitosas e económicas ideias que pretendem que nas empresas não se gere estagnação produtiva devido às rotinas das respectivas tarefas e em seu cansaço ou desmotivação psicológica, inventaram, claro está, a criatividade competitiva, é interessante, não é? Talvez uma boa forma de remediar o que não tem remédio, que é produzir mais e mais, negligenciando o desenvolvimento do intelecto no fazer através de sensibilidades, gerando luta ou lutas com tudo e com todos e até claro está numa guerra psicológica com os respectivos parceiros de carteira, colegas de trabalho, amigos e até familiares. Uma muito pouco salutar forma de se viver e trabalhar a arranjar riqueza, pelo inevitável resultado que daí advirá e com ele o gerir o tal empobrecimento interior.

E por isso se confunde invenção com criação e criação com produção, novo com novidade, e criatividade para muitos até é competitividade, enfim palavras que são postas num mesmo saco e por isso sinónimos tão convincentemente convenientes uns dos outros, e porque até é assim que se lê ou que interessa ler em muitos dicionários. E a tal «estética» que se comercializa por aí, nessa evidente beleza do que é a sedutora exterioridade da vida ou ainda como que a única razão em moda de vidas?

Mas usurpando à arte os seus conceitos, nem tudo lhe poderá ser roubado, afinal qual o significado da Criação para a Arte ou seja, o que é a Criação Artística?

E exactamente porque a sedução oculta ou falseia a aptidão ou capacidade de pensar e em capacidade de pensar, que por sua vez será sempre pertença da beleza artística. Por isso a beleza artística, jamais se reconhece na sedução. Assim a criação ou criação artística é uma acção ou dinâmica completamente inexplicável e que espontaneamente faz irromper o ser do nada, a diferenciar-se do trabalho, da técnica ou da produção. Embora se queira associar estes processos do ressurgimento do nada na arte e no que é artístico como afronta às leis da natureza e dando-lhes um sentido do teológico ou transcendental, não creio que seja esse a via louvável para o seu entendimento.

É que nestas vias, ainda há um longo caminho, a percorrer… E lá iremos!

a 2010


Alice Valente Alves

Com desejos de um FELIZ 2010



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