Sobre_ ALI_SE
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a árvore ao jardim

O FUTURO

O futuro não se inventa, cria-se!

E exactamente porque o agora, é resultado de um futuro que foi inventado, que afinal, já não o queremos.

É que o futuro que se precisa é de um futuro criador, ou seja, de um futuro no sentido de uma evolução criadora.

Criar é cuidar de tudo e de todos que nos rodeiam.

E inventar é arranjar soluções que por vezes nos poderão afastar dessa perfeita capacidade do Homem viver humanamente.


 ALICE  VALENTE


Poesia e Fotografia de ALICE VALENTE


A CONSCIENTE NEGLIGÊNCIA DO CORPO (Ensaio)

(...) E o que ainda nos faz estar aqui, é o cumprimento com o primeiro dos objectivos da vida, o ser a Ser, por seres que somos, de cuidado e de criação, todos aptos, mas mesmo todos aptos e capazes de conseguir, dentro de maiores ou menores limitações, a criar e a cuidar deste nosso planeta, a terra, como se tratasse do nosso próprio  corpo. (...)



Criação Artística e os conceitos usurpados à Arte na Criação



Os apossados da arte a transformá-la em não-arte


Poesia e Fotografia de ALICE VALENTE




Como tudo é

Será que há pessoas
Que querem ser assim
Como tudo é

Não, nada mais será como é.
E nada mais terás pelo que não és.
O que aí vem é só para aquilo que és em ti mesmo, sem mais.

E o que é teu, é de todos.
O que não é, não é, nem teu nem de ninguém.
E com isso, sê, sem mais.


E faz-se tarde

Quando não sabes o que é pensar por ti
A dares-te por inteiro, primeiramente. 



E refrescam-se teus dias
Sabendo nada de nada, por tudo.



JEAN-PIERRE DUPUY e a miséria da ECONOMIA

AS PIRÂMIDES DA EXCLUSÃO

A FILOSOFIA SOCIAL E POLÍTICA 
PERANTE A MISÉRIA DA ECONOMIA

(...)
No centro da economia, há aquilo a que Dumouchel chama de «exterioridade de terceiros». Esta figura é contemporânea do enfraquecimento geral do sistema dos interditos e das obrigações de solidariedade, que inúmeros bons autores, e não apenas Girard, ligam à influência do cristianismo. A dessolidarização da comunidade tem por efeito a intensificação das rivalidades miméticas não produz a polarização contra uma vítima única, própria da crise sacrificial. Os homens estão mais do que nunca fascinados pelos duplos, que odeiam abertamente e veneram secretamente, mas estas rivalidades não abrangem a totalidade do espaço social. Os terceiros estão demasiadamente implicados nos seus próprios fascínios para não se sentirem exteriores às rivalidades dos outros. Não têm de tomar partido e vêem demasiado bem  a verdade da violência, a saber, a reciprocidade: nada separa os violentos, a não ser o seu próprio ódio. Vêem isto nos outros, mas nunca neles.

Os homens são terceiros exteriores uns para os outros. Visto que todos se furtam às obrigações de solidariedade, porque estão fascinados com outra coisa, afastam-se dos vencidos que os antagonismos dos outros produzem em redor. A ordem económica é a construção social da indiferença às desgraças dos outros. Não são as relações entre os rivais que, dentro desta ordem, estão marcadas  pela maior violência, mas as relações de cada um deles com os outros, ou seja a relação entre terceiros. É a recusa dos terceiros em apoiar os perdedores que sanciona o seu fracasso e o transforma numa verdadeira condenação à morte social, e por vezes, física, muito mais do que  os golpes que lhes foram desferidos pelos vencedores. Dumouchel analisou nestes termos a Revolução Industrial do século XVIII inglês e a remodelação dos bens de raiz que dela resultou. Foi nesta época que se fez, pela primeira vez, a pergunta, que continua a ser a nossa: mas de onde vêm, então os miseráveis, exactamente quando a riqueza aumenta?

Os «excluídos» não são vítimas sacrificiais, porque, longe de serem o foco do fascínio geral, morrem devido à indiferença de todos. Porém perguntar-se-á, não estaremos obcecados pela pergunta que nos fazem? Sem dúvida que sim, mas enquanto vítimas, é essa toda a diferença. Nós modernos, estamos obcecados pela questão das vítimas, é essa a diferença. Em filosofia moral e política, como prova só quero que a obra de Rawls, esse assalto frontal contra a hegemonia utilitarista, que se pode interpretar como uma poderosa máquina anti-sacrificial. Dentro desta concepção da justiça -  que Rawls baptiza «justiça como equidade» -, a prioridade das prioridades é o destino dos mais desfavorecidos. É a sua liberdade e  o seu bem-estar que se deve tornar tão grandes quanto possível, nem que para isso se tenha de renunciar a melhorar a situação das muito mais numerosas classes médias, nem que para isso se tenha de aceitar as desigualdades. Os princípios que exprimem a justiça como equidade podem pôr-se sob a forma reunida seguinte: qualquer desigualdade que não esteja ao serviço dos pior favorecidos é injusta, e isto em três domínios absolutamente hierarquizados: as liberdades e os direitos fundamentais, em primeiro lugar; as hipóteses e as oportunidades a seguir; o acesso aos recursos e às riquezas económicas e sociais, finalmente. Os pior favorecidos, portanto aqueles que têm mais hipóteses de ser as vítimas sacrificiais, são «sagrados». A metáfora religiosa é evidentemente incómoda, visto que, por «sagrado», se pretende dizer aqui que não será sacrificado.

Estamos obcecados pela questão das vítimas, mas isso não origina que o seu destino seja mais invejável. As vítimas são tão importantes para nós, que, doravante, é em nome das vítimas que perseguimos. Uma variante cómica deste desvio perverso é o «multicultarilismo» americano. Quanto mais sinais vitimários acumularem, mais seguros ficarão de aceder aos privilégios. Tal como Girard escreve, citando Bernarnos: «O mundo moderno está cheio de ideias cristãs que se tornaram loucas.»

(...)

JEAN-PIERRE DUPUY, «Ética e Filosofia da Acção», Pensamento e Filosofia, 2001


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