(…)
(…) … No estudo da especulação financeira, Keynes vê bem, tal como Hayek, o papel fundamental da imitação. Numa situação de incerteza radical, tal como a que prevalece num mercado financeiro em crise, a única conduta racional é imitar os outros.
(…) O erro «fatal» do racionalismo construtivista é pensar que a razão, consciente e voluntária, pode governar a vida mental e psíquica. Verdadeiro é o contrário: tal como tudo o que faz a vida do espírito, a razão é ela mesma governada pelos esquemas abstractos que a compõem. A razão, o mundo das nossas ideias em geral, apenas «se verifica» no mundo do espírito, para recordar a uma noção chave da filosofia do espírito (“supervenience”). Que presunção imaginar que poderia “reconstruí-lo” à vontade ou mesmo substituir-se-lhe! O espírito é irremediavelmente opaco a si mesmo, não pode pôr-se no exterior de si mesmo para se contemplar no seu todo e fazer a teoria do seu próprio funcionamento.
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Não é de moralização que o mundo dos negócios mais precisa; é da clara compreensão de que ao «pagar», o político assina a prazo, a sentença de morte.
(…) Se, ao menos se pudesse manter a economia no devido lugar! Porém tem uma tendência irresistível para tudo invadir. Para fazerem compreender bem a lei da oferta e da procura, dois professores da Universidade da Virgínia, Gordon Tullock e Richard McKenzie, incitaram nos anos setenta, os alunos a praticar a prostituição.
(…) … Que ninguém se apresse a gritar que isto é um escândalo. Em matéria de ética, a moral é má conselheira… Se uma troca recíproca satisfizer ambas as partes e se,por outro lado , ninguém sofrer com ela, quem pode criticá-la? A lei? Sabe-se que a lei pode ser injusta e que não é imutável. Engraxo-te as botas, prestas-me um serviço ao fazer com que obtenha um contrato. A justiça conformada aqui com a justiça das trocas, é automaticamente assegurada pelo consentimento das partes.
(…) … O mercado cria laços em que a afectividade não tem lugar…
(…) … Para qualquer pensamento crítico. O mercado é a antitradição por excelência (…)
(…) Mais ainda do que nas obras precedentes, O Hayek de “The Fatal Conceit” está consciente da relação de ódio e de amor misturados que os homens têm pela ordem extensa do mercado – a que chama a maioria das vezes, a «civilização». O que pôs o homem na via da civilização, escreve, «não foi nem a sua razão nem uma “bondade natural” inata […], foi apenas a amarga necessidade de se submeter a regras de que não gosta, a fim de resistir a grupos rivais que já tinham começado a expandir-se por terem encontrado antes essas regras». Pela sua própria abstracção, o mercado quer uma disciplina exigente, uma moral compulsiva. A civilização é um «fardo» e os homens não vêem facilmente, os benefícios que ela dá.
(…) … O indivíduo auto-suficiente e independente que a teoria económica postula não se pode sujeitar à influência dos semelhantes. … E, contudo Hayek atribui à imitação um papel central. Não é o único evidentemente: Smith, tal como vimos, e Keynes, tal como iremos ver, fazem a mesma coisa. A companhia não é de desprezar: são os melhores economistas de todos os tempos que se encontram juntos neste ponto.
(…) … O problema, evidentemente, é que Hayek dificilmente pode afirmar que o mercado passou no teste com êxito, visto que toda a sua obra se apresenta como uma crítica radical, e temos a vontade de escrever, «racional» da civilização moderna, culpada de se ter deixado seduzir pelas sereias do construtivismo.
(…) Se, ao menos se pudesse manter a economia no devido lugar! Porém tem uma tendência irresistível para tudo invadir. Para fazerem compreender bem a lei da oferta e da procura, dois professores da Universidade da Virgínia, Gordon Tullock e Richard McKenzie, incitaram nos anos setenta, os alunos a praticar a prostituição.
(…) … Que ninguém se apresse a gritar que isto é um escândalo. Em matéria de ética, a moral é má conselheira… Se uma troca recíproca satisfizer ambas as partes e se,
(…) … O mercado cria laços em que a afectividade não tem lugar…
(…) … Para qualquer pensamento crítico. O mercado é a antitradição por excelência (…)
(…) … O problema, evidentemente, é que Hayek dificilmente pode afirmar que o mercado passou no teste com êxito, visto que toda a sua obra se apresenta como uma crítica radical, e temos a vontade de escrever, «racional» da civilização moderna, culpada de se ter deixado seduzir pelas sereias do construtivismo.
(…) … No estudo da especulação financeira, Keynes vê bem, tal como Hayek, o papel fundamental da imitação. Numa situação de incerteza radical, tal como a que prevalece num mercado financeiro em crise, a única conduta racional é imitar os outros.
(…) O erro «fatal» do racionalismo construtivista é pensar que a razão, consciente e voluntária, pode governar a vida mental e psíquica. Verdadeiro é o contrário: tal como tudo o que faz a vida do espírito, a razão é ela mesma governada pelos esquemas abstractos que a compõem. A razão, o mundo das nossas ideias em geral, apenas «se verifica» no mundo do espírito, para recordar a uma noção chave da filosofia do espírito (“supervenience”). Que presunção imaginar que poderia “reconstruí-lo” à vontade ou mesmo substituir-se-lhe! O espírito é irremediavelmente opaco a si mesmo, não pode pôr-se no exterior de si mesmo para se contemplar no seu todo e fazer a teoria do seu próprio funcionamento.
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JEAN-PIERRE DUPUY, «Ética e Filosofia da Acção», Pensamento e Filosofia, 2001