Sobre_ ALI_SE
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a árvore ao jardim

a razão intuitiva


(…) a respeito, de “emoção afirmativa”, de “sentimento do sim”, que faria aquiescer à realidade em seu todo. Há, na vida algo a que nos agarramos e que, apesar das vicissitudes, a torna preferível ao “néant”, ao nada, do qual o sentimento do não seria a expressão. Pode-se, aqui fazer referência a um belíssimo texto de JULIEN CRACG: «Por que a literatura respira mal», no qual ele faz uma distinção entre aqueles que, como Claudel, escrevem a partir de um “sim absoluto, eufórico, frente a tudo que advém, aqueles que têm uma formidável apetite por aquiescência”, para os quais escolher está fora de questão, para os quais tudo é bom, eventualmente até o mal, e aqueles que, como SARTRE, a partir de um “não inscrito na afectividade profunda”, a partir de um “não em parte visceral”. (...)... para observar que foi, antes, uma literatura e um pensamento do «não» que triunfou durante a modernidade.
(…)
… e agora que a Filosofia da História, naquilo que ela tem de linear e seguro, está saturada, pode-se imaginar que a “regressão” seja a expressão de uma energia que não tem mais futuro. Ela é semelhante a um refluxo que empurra as águas de volta para a desembocadura.
Num pequeno texto de grande finura, FERNANDO PESSOA imagina ou recria um diálogo fictício entre duas pessoas em um salão de chá. Ele conclui dizendo que mais que o “de um romancista, meu trabalho é o de um historiador. Eu reconstruo contemplando”. Pode ser que tal atenção não convenha ao cientista. Nem por isso ela deixa de traduzir a força da vida imaginativa, que não cria a partir de nada mas contenta-se em fazer sobressair a lógica interna de um fenómeno. Continuando com Fernando Pessoa em O LIVRO DO DESASSOSSEGO: “Há metáforas que são mais reais do que a gente que anda na rua. Há imagens nos recantos de livros que vivem mais nitidamente que muito homem e muita mulher”.
Por mais paradoxal que isso possa parecer há um poder da palavra que corresponde à potência das imagens. Num momento em que domina a sensibilidade estética, um e outro entram em sinergia; é precisamente o que funda a metáfora. (…)



MICHEL MAFFESOLI (sociólogo)
ELOGIO DA RAZÃO SENSÍVEL – Editora Vozes

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