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a árvore ao jardim

O homem - ser animal - em ADORNO

(…) A falta de razão não tem palavras. Eloquente é a sua posse, que estende seu domínio através de toda a história manifesta. A terra inteira dá testemunho da glória do homem, na guerra e na paz, na arena e no matadouro as criaturas irracionais sempre tiveram de fazer a experiência da razão. Esse processo visível esconde aos carrascos o processo invisível: a vida sem a luz da razão, a vida dos animais. Esta seria o tema genuíno da psicologia, pois só a vida dos animais decorre segundo impulsões psíquicas; quando a psicologia tem de explicar os homens, eles já regrediram e se destruíram. E quando os homens chamam a psicologia em seu socorro, o espaço reduzido de suas relações imediatas se vê ainda mais reduzido, mesmo aí eles são convertidos em coisas. O recurso à psicologia, para compreender o outro, é um gesto descarado; para a explicação dos próprios motivos, um gesto sentimental…

(…) O mundo do animal é um mundo sem conceito…
… O animal responde ao nome e não tem um eu…

(…) A transformação das pessoas em animais como castigo é um tema constante dos contos infantis de todas as nações. Estar encantado no corpo de um animal equivale a uma condenação… Todo o animal recorda uma desgraça infinita ocorrida em tempos primitivos. O conto infantil exprime o pressentimento das pessoas. Mas enquanto o príncipe conservou a razão, de tal modo que pôde exprimir na hora certa sua dor e ser assim resgatado pela fada, a falta de razão exila eternamente o animal em sua figura, a não ser que o homem que, pelo passado, se identifica com ele descubra a fórmula salvadora e com ela abrande no fim dos tempos o coração de pedra da eternidade.

Para o ser racional, porém, a solicitude pelo animal desprovido de razão é uma vã ocupação. A civilização ocidental deixou-a ao encargo das mulheres. Estas não tiveram nenhuma participação independente nas habilidades que produziram essa civilização. É o homem que deve sair para enfrentar a vida hostil, é ele que deve agir e lutar. A mulher não é sujeito. Ela não produz, mas cuida dos que produzem, monumento vivo dos tempos há muito passados da economia doméstica fechada. A divisão do trabalho imposta pelo homem foi-lhe pouco favorável. Ela passou a incarnar a função biológica e tornou-se o símbolo da natureza, cuja opressão é o título de glória dessa civilização
(…)

THEODOR W. ADORNO / MAX HORKHEIMER , Dialéctica do esclarecimento, JORGE ZAHAR EDITOR



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