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a árvore ao jardim

O Método e o Entendimento da Verdade em ESPINOSA



§ 35
… a certeza não é mais que a própria essência objectiva, isto é, o modo pelo qual sentimos a essência formal é a própria certeza. Donde se vê novamente que, para a certeza da verdade, nenhum outro sinal é necessário a não ser a posse da ideia verdadeira: como demonstrámos, para que saiba, não é necessário saber que sei. Do que, por outro lado, se vê que ninguém pode saber aquilo que seja a certeza suprema a não ser que tenha a ideia adequada ou a essência objectiva de uma coisa: evidentemente, porque a certeza e a essência objectiva são a mesma coisa.

§ 36
Logo, como a verdade não tem necessidade de nenhum sinal, mas basta ter as essências objectivas das coisas ou, o que é o mesmo, as ideias, para se tirar toda a dúvida, segue-se que não é verdadeiro o Método que procura o sinal da verdade depois da aquisição das ideias, mas que o verdadeiro Método é o caminho pelo qual a própria verdade ou essências objectivas das coisas ou ideias (significam o mesmo) devem ser procuradas na ordem devida.
§ 37
Por outro lado, o Método deve falar necessariamente do raciocínio ou da intelecção. Isto é, o Método não é o próprio raciocínio para compreender as causas das coisas, e muito menos compreender as causas das coisas, mas consiste em compreender o que é a ideia verdadeira, distinguindo-a das outras percepções, investigando a sua natureza para que conheçamos, por aí, o nosso poder de entender, e assim governemos a mente para que compreenda, por aquela norma, tudo o que pode ser compreendido, dando-lhe como auxílio certas regras e fazendo também com que a mente não seja fatigada com coisas inúteis.
(…)
§ 47
… temos de admitir que há homens completamente cegos de espírito, desde o nascimento ou por causa dos preconceitos, isto é, por quaisquer ocorrências exteriores. É que então nem consciência têm de si mesmos; se afirmam algo ou duvidam, não sabem se duvidam ou se afirmam. Dizem que não sabem nada; e isto mesmo, que não sabem nada, dizem que ignoram. E mesmo isto não o dizem absolutamente, pois têm medo de admitir que existem quando não sabem nada. Acrescento que devem então calar-se não suponham por acaso alguma coisa que exale um odor de verdade.
§ 48
Em suma, com eles não vale a pena falar de ciências porque, no que respeita ao uso da vida e da sociedade, a necessidade obriga-os a admitirem que existem, e a procurar os seus interesses, e a afirmarem e a negarem muitas coisas sob juramento. Se se lhes demonstra alguma coisa, não sabem se a argumentação prova ou é deficiente. Se negam, concedem ou opõem, não sabem que negam, concedem ou opõem e, portanto têm de ser considerados como autómatos, que carecem totalmente de espírito.
(...)
BENTO ESPINOSA, TRATADO SOBRE A REFORMA DO ENTENDIMENTO
Livros Horizonte - Lisboa -1971






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