- Naquilo a que chama os "modos de existência" e a que Foucault chamava "estilos de vida", há uma estética da vida, como nos lembrou: a vida como obra de arte. Mas há também uma ética!
- Sim, a constituição dos modos de existência ou dos estilos de vida não é apenas estética, é aquilo a que Foucault chama a ética, por oposição à moral. A diferença é a seguinte: a moral apresenta-se como um conjunto de regras coercivas de um tipo especial, que consiste em julgar acções e intenções referindo-as a valores transcendentes (é bem, é mal...); a ética é um conjunto de regras facultativas que avaliam aquilo que fazemos, aquilo que dizemos, segundo o modo de existência que isso implica. Dizemos isto, fazemos aquilo: que modo de existência implica isso? Há coisas que não podem fazer-se ou dizer-se senão à força de baixeza de alma, de vida cheia de ódio ou de vingança contra a vida. Por vezes um gesto ou uma palavra bastam. São estilos de vida, sempre implicados, que nos constituem como tal ou tal. Era já esta a ideia do "modo" em Espinosa. E não a encontraremos presente desde a primeira filosofia de Foucault - o que é somos "capazes" de ver, e de dizer (no sentido de enunciado)? Mas, se há aqui toda uma ética, trata-se também de uma questão de estética.
(...)
- Sim, a constituição dos modos de existência ou dos estilos de vida não é apenas estética, é aquilo a que Foucault chama a ética, por oposição à moral. A diferença é a seguinte: a moral apresenta-se como um conjunto de regras coercivas de um tipo especial, que consiste em julgar acções e intenções referindo-as a valores transcendentes (é bem, é mal...); a ética é um conjunto de regras facultativas que avaliam aquilo que fazemos, aquilo que dizemos, segundo o modo de existência que isso implica. Dizemos isto, fazemos aquilo: que modo de existência implica isso? Há coisas que não podem fazer-se ou dizer-se senão à força de baixeza de alma, de vida cheia de ódio ou de vingança contra a vida. Por vezes um gesto ou uma palavra bastam. São estilos de vida, sempre implicados, que nos constituem como tal ou tal. Era já esta a ideia do "modo" em Espinosa. E não a encontraremos presente desde a primeira filosofia de Foucault - o que é somos "capazes" de ver, e de dizer (no sentido de enunciado)? Mas, se há aqui toda uma ética, trata-se também de uma questão de estética.
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GILLES DELEUZE , Conversações 1990, Fim de Século Edições, 2003