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a árvore ao jardim

FAÇA-SE LIXO: empréstimo imprestável

E em mais um ano que passou, é naquela mesma casa que nada vivo restou de antigamente, que brinca mais uma criança nascida de agora. Criança substituindo ou substituída!?
E alegremente cresce para a fúria que satisfaz as vontades de pais. Pais de agora que não se pensam em futuramente. Pais acoitados feitos de um medo cúmplice que ainda assim os irá protegendo. Simples e comodamente vibram com tal satisfação pródiga de se saberem seguros, vivendo de um mesmo tecto, em regras aprendidas para a qual felicidade que os faz estar bem forçosamente. Sim estão bem aparente e convenientemente: têm carros, casas, vários empregos, férias grandes e outras tantas férias de fins-de-semana que se prolongam em descanso devido para toda a vida.
E por sinal também têm uma empregada que trabalha, que trabalha todos os dias úteis, e que limpa, e que cozinha, e que arruma toda a casa, e que sacode tapetes, e que muda as roupas da cama, e que lava, pendura e engoma toda a roupa que sujam e que ainda, trata e cuida da criança com todo a afeição e até levando-a a passear todos os dias.
E a vontade de um estar social deste tipo de acasalados tão bem formatado é na amostragem de saberem-se elogiados por celebridades. E assim rastejam à procura de mais alguém afamado que os vanglorie em suas proezas de se agastarem a sacudir capotes de tanto pó.
Que família é esta? Mais uma que gasta, que consome em excesso, e porque quer e pode, e porque com direitos salvaguardados, desliga-se com toda a cordial brutalidade do mundo da escassez dos afligidos da má sorte, desses que como se diz, não lhes reza a história.
E continuam por aí estes emparelhados em sua esganada forma de perfilar a perdurarem em empréstimos feitos de quantos bens em casas e carros bem estacionados, ora dentro ora fora de garagens trancadas em casas fechadas e sempre cheias de coisas e mais coisas, muradas de batalhas sempre ganhas. E em suas profissões de negócios profissionalizáveis, arrecadam bem tudo o que lhes vem à mão de proveito, mas só de muito proveito, não se deixando excluir de forma nenhuma, a ultrajarem a crescente demasia desfavorecida que tão bem os favoreceu e a não prestarem um único olhar aos que lhes prestaram ou ainda lhes prestam grandes préstimos.
E de tão empanturrados, ecoam-se por aí numa solene satisfação vitoriosa por bem vivos a poderem olhar para o outro mundo, o mundo frágil, aquele tal mundo sempre em tão crescente e subtil empobrecimento, e porque bem forçado a assim ser, e que tão bem aprenderam a ignorar, e que irão continuar a ensinar por aí fora, aos que quiserem aprender até quando, de como é temível esse tão conhecido território dos infortunados.
E porque vividos em que excelência, tudo o que têm, tentam continuar a sustentar numa utilidade transformada inevitavelmente em lixo por tão imprestável.
ALICE VALENTE


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