Sobre_ ALI_SE
_
a árvore ao jardim

O corpo e o frio agressivo

Cada vez existem mais e mais regras que permitem a invasão da privacidade na ocupação do espaço do outro e dos outros. É preciso saber os segredos do outro, para o poder rebaixar ou aniquilar. Faz parte das regras da competitividade e da espionagem. É preciso fingir, para saber o fraco do outro, para o dominar, para o roubar, para o eliminar, para se ter o mais espaço possível, é a importância obrigatória a dar lugar ao protagonismo e vedetismo. E as regras sociais não fogem a esse estatuto da competitividade, igualmente transposta para a educação, para o ensino, para a família.
E como faz parte em todas estas coisas das cumplicidades, há que dar sucessão a toda esta mórbida e agressiva salvação primeiro e especialmente, para com todos os seus, no mostrar ou a ser-se bem sucedido a todo o custo, ou seja,

Haja muita paz com muita guerra,
Haja muito, muito ódio com o máximo de amor possível
E salve-se quem puder!

Que fazer?

Não é de todo possível ajustar qualquer sensibilização a estas ideias do vedetismo e do aparatoso em noções constrangedoras, castradoras e aniquiladoras nestes tais conhecimentos e em que cientificidades tão, mas tão inteligíveis do que é o político-económico na sua alta competitividade. Que até às Artes tal como à Filosofia já lhes foi roubado o nome, e relativamente às artes em seu ensino e com os seus curandeiros, parece que até estão todos, muito bem de saúde, nesta nova moda ou era de que vias das competitividades descobertas.
E como se diz que a vida é um jogo, tudo se baralha. E porque não se pensa, não se respeita. E o que é preciso ou só se quer, é pôr-se em prática logo, logo e muito sagazmente, o que se aprendeu nestas novas escolas, e até mesmo faculdades das fabriquetas do faz-de-conta, e faça-se então o máximo em muitas coisinhas copiosas. É que neste momento, muito do que se está a aprender e a ser posto em prática é errado e altamente pernicioso para a valorização do Ser a Ser-se humano.

Na qual alegria de viver
Abastecem-se de saltos altos unidos
E ao descer
Trapezistas tombam quais objectos
E na queda fluída horrorizas-te
Sobes o pano do teu corpo palco
E porque julgado protegido
Apresentas-te muito bem e o mais agasalhado possível a todos
A todos o que estão e que te olham
Porque todo o frio vindo de teus espectadores
Poder-te-á congelar



Post's relacionados em ALI_SE:

Competir ou HUMANIZAR

Clube Ministério Educação

AS VÍTIMAS

A inteligência e a «indústria cultural»

O perigoso "Psico-Ensino"

(...) Estratégias mercantilistas não funcionam nem com a Educação nem com a Cultura. Tanto o Ministério da Educação como o da Cultura são a única garantia do equilíbrio de uma sociedade mais justa e humanizada em seus valores de ética e estética. Se misturarem a Educação e a Cultura com as outras áreas da Economia e da Política, entramos efectivamente num descalabro social.


Que T(t)erra


Sim, a Terra fala
A Terra ouve
A Terra diz
A Terra chora
A Terra grita
A Terra escuta
A Terra mexe
A Terra sente
A Terra és tu, eu e todos nós
E na Terra que não é nossa
Por que terras dos que a encurralam
Não me ouves
Não te oiço
Não me falas
Não te falo
Não te vejo
Não me vês
Não me sentes
Não te sinto
Na Terra que não é nossa
Não há sorrir nem pensar
Oh, terra da Terra que não é nossa
Em Terra de adormecidos da Terra que não dorme
Ainda que por feitos de toda esta terra
Da una e única Terra, esta a que nos compõe, gera, mancha, lava e chama


POESIA E FOTOGRAFIA DE ALICE VALENTE

O Método e o Entendimento da Verdade em ESPINOSA



§ 35
… a certeza não é mais que a própria essência objectiva, isto é, o modo pelo qual sentimos a essência formal é a própria certeza. Donde se vê novamente que, para a certeza da verdade, nenhum outro sinal é necessário a não ser a posse da ideia verdadeira: como demonstrámos, para que saiba, não é necessário saber que sei. Do que, por outro lado, se vê que ninguém pode saber aquilo que seja a certeza suprema a não ser que tenha a ideia adequada ou a essência objectiva de uma coisa: evidentemente, porque a certeza e a essência objectiva são a mesma coisa.

§ 36
Logo, como a verdade não tem necessidade de nenhum sinal, mas basta ter as essências objectivas das coisas ou, o que é o mesmo, as ideias, para se tirar toda a dúvida, segue-se que não é verdadeiro o Método que procura o sinal da verdade depois da aquisição das ideias, mas que o verdadeiro Método é o caminho pelo qual a própria verdade ou essências objectivas das coisas ou ideias (significam o mesmo) devem ser procuradas na ordem devida.
§ 37
Por outro lado, o Método deve falar necessariamente do raciocínio ou da intelecção. Isto é, o Método não é o próprio raciocínio para compreender as causas das coisas, e muito menos compreender as causas das coisas, mas consiste em compreender o que é a ideia verdadeira, distinguindo-a das outras percepções, investigando a sua natureza para que conheçamos, por aí, o nosso poder de entender, e assim governemos a mente para que compreenda, por aquela norma, tudo o que pode ser compreendido, dando-lhe como auxílio certas regras e fazendo também com que a mente não seja fatigada com coisas inúteis.
(…)
§ 47
… temos de admitir que há homens completamente cegos de espírito, desde o nascimento ou por causa dos preconceitos, isto é, por quaisquer ocorrências exteriores. É que então nem consciência têm de si mesmos; se afirmam algo ou duvidam, não sabem se duvidam ou se afirmam. Dizem que não sabem nada; e isto mesmo, que não sabem nada, dizem que ignoram. E mesmo isto não o dizem absolutamente, pois têm medo de admitir que existem quando não sabem nada. Acrescento que devem então calar-se não suponham por acaso alguma coisa que exale um odor de verdade.
§ 48
Em suma, com eles não vale a pena falar de ciências porque, no que respeita ao uso da vida e da sociedade, a necessidade obriga-os a admitirem que existem, e a procurar os seus interesses, e a afirmarem e a negarem muitas coisas sob juramento. Se se lhes demonstra alguma coisa, não sabem se a argumentação prova ou é deficiente. Se negam, concedem ou opõem, não sabem que negam, concedem ou opõem e, portanto têm de ser considerados como autómatos, que carecem totalmente de espírito.
(...)
BENTO ESPINOSA, TRATADO SOBRE A REFORMA DO ENTENDIMENTO
Livros Horizonte - Lisboa -1971






O poder ter e o abandono



Afinal, que direitos tem o homem? O dever de poder ter para poder abandonar?
A pobreza nem sempre se vê, mas quando salta para a rua, dói, e dói particularmente para quem o dinheiro não é tudo.
E os indiferentes perante estas e outras dores em abandono, de quem se senta assim à espera neste desamparo, têm vindo a aumentar na mesma proporção da inversão das suas formas.
O medo de abandono no medo de não se ser apreciado, acarinhado ou protegido, embarca-se no desprezo por quem não tem no atracar-se a quem tem. Inseguranças e pavores que afinal existem, tanto em quem não tem poder ou posses, como em quem aparentemente tudo tem.
Eis, que a não se fazer nada, se por aqui e agora é assim, como será dentro dos próximos anos em que todos os afectos ou afectados se propagarão adentro da sua invertida proporção em quais misérias tornadas pobreza por tão inconfundivelmente igualitárias?


LinkWithin

Related Posts with Thumbnails

Páginas